terça-feira, 6 de março de 2012

Insônia



(Pauta para o Bloínquês)



Não conseguia dormir. Fora assim a sua vida toda. Quando algo o preocupava, o sono logo ia embora. Ficava pensando e pensado e só conseguia dormir de exaustão.

O luar entrava pela janela do quarto e deixava tudo iluminado com aquela sua cor branca que caracterizava seus momentos de angústia. Porque as coisas eram tão difíceis em sua vida? Será que era ele mesmo que tornava tudo mais difícil?

Olhou para Cris dormindo sossegada ao seu lado. Tentava não se mexer muito para não acordá-la. A última coisa que queria era falar com alguém. Esses momentos eram dele. Apenas dele.

Olhou-a novamente dormindo e ficou um pouco irritado. Era tudo por causa dela. Amanhã ele estaria esgotado, iria trabalhar feito um zumbi e passaria o dia todo de mal humor. Enquanto ela estaria renovada, com sua beleza encantando a todos que a rodeavam!

Sentiu logo a pontada de ciúmes que sempre vinha quando pensava nisso. Sua bela Cris sorrindo para outro rapaz, conversando animadamente com seu jeito espontâneo e alegre, demonstrando a afeição e o carinho com que tratava  a todos. Como não poderia haver legiões de apaixonados por ela? Como poderia esquecer aquele bilhete que ela recebera mês passado? Como poderia achar tudo aquilo uma bobagem?

Virou-se bruscamente na cama o que fez com que ela mudasse de posição, mas, para seu alívio, continuasse dormindo. Levantou-se lentamente e seu olhar caiu sobre a colcha dobrada aos pés da cama. Estava frio. Pegou a colcha e o travesseiro e foi para a sala. Precisava pensar.

Aconchegou-se no sofá, mas seus primeiros pensamentos não foram diretamente para Cris e sim para sua mãe. Como as duas eram parecidas. Ambas possuíam feições delicadas, eram amorosas e sorriam sem precisar de qualquer motivo.

Na verdade não tinha muitas lembranças da mãe, apenas aquelas que seu pai cultivara. Eles tiveram um divorcio conturbado. Com apenas seis anos de idade ele vira sua mãe partir para nunca mais voltar.

Seu pai sempre acreditara que ela voltaria. E essa esperança fez com que ele fosse se apagando aos poucos. Deixando de ser aquele homem forte que tanto o orgulhava, e transformando-o naquele ser sem vida que andava pela casa como se estivesse em outro mundo, ou em outra época.

Por isso desde muito cedo decidira não se casar. Nunca seria como seu pai. Isso nunca aconteceria com ele. Mas agora estava ali. Naquela situação.

 – Querido, está tudo bem? – Cris perguntou assustando-o um pouco com sua aparição silenciosa. – Senti sua falta na cama.

Ela o fitava com olhos sonolentos e uma rusga de preocupação na testa. Era agora ou nunca. Precisava falar com ela. Não poderia continuar assim. Tinha que tomar uma atitude. Tinha que tomar a direção de sua vida.

Levantou-se do sofá, caminhou em sua direção e tomou suas mãos apertando-as com um pouco de nervosismo . Como estavam frias. Em um súbito ato de inspiração ajoelhou-se em sua frente. Achando-se terrivelmente bobo falou com uma voz trêmula que nem ele reconheceu:

 – Cris, quer se casar comigo?  – Ele não sabia se ela tremia de frio ou de surpresa. Mas após alguns segundos, que lhes pareceram horas, ela finalmente falou.

 – Mas Beto, você não quer se casar. Você deixou isso bem claro quando começamos a namorar. Não precisa fazer isso. Eu não exijo nada de você. Eu entendo sua decisão e respeito isso. Eu sei o que aconteceu com o casamento de seus pais.

 – Mas estou fazendo isso por mim também. Preciso viver a minha vida e não a de meus pais. O que aconteceu com eles não vai necessariamente acontecer conosco. Se eu não fizer isso agora, terei essa dúvida para sempre. Como seria estar casado com você? Como seriam nossos filhos? Eu te amo Cris e sinto que preciso crescer como pessoa para ser merecedor do seu amor. Quero deixar minha insegurança e meus fantasmas para trás.

As lagrimas desciam pelo rosto dela e a única coisa que indicava que eram de felicidade era pelo sorriso que as acompanhavam.

 – E então? Estou esperando sua resposta. Mas se apresse, pois parece que estou ajoelhado numa barra de gelo. Assim você terminara casando com estátua congelada! – Disse sorrindo e piscando para ela.

 – Sim! Sim! É claro que eu quero me casar com você! – Respondeu ela chorando e sorrindo ainda mais.

Ele levantou-se e carregou-a de volta para o quarto. A felicidade fazendo-o sentir que poderia conquistar o mundo. Que poderia fazer qualquer coisa que quisesse. Sentindo-se como nunca havia se sentindo antes. Sentindo-se finalmente completo.

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